Sebastião Santos
Um detalhe interessante se revelou no item “Receitas” do levantamento que o SINPUC fez sobre o impacto das folhas de pagamento na economia do Curimataú: o município de Picuí, como era de se esperar, tem o maior ativo de receitas totais da região, mas fica em último lugar quando se divide o montante geral do que a gestão recebe pelo número de habitantes que depende deste dinheiro. A análise está nas páginas 12 e 18 do estudo realizado pelo sindicato e lançado neste mês.
Curiosamente, o campeão neste mesmo quesito é Frei Martinho. Com a menor população dos sete municípios da base sindical, apenas 2.933 habitantes, o município dispõe da maior receita per capta da região. Enquanto Picuí recebeu R$ 1.497,36 por cada cidadão em 2011, ano-base do levantamento, Frei Martinho teve quase o dobro de recurso no mesmo ano: exatos R$ 2.521,08.
Se compararmos os municípios com carros que precisam se deslocar para determinado lugar, podemos fazer a seguinte reflexão: Frei Martinho tem mais combustível do que Picuí, portanto, se desloca com mais folga de um ponto A ao um ponto B. Picuí, como tem menos autonomia, precisa utilizar o combustível com muito mais cuidado. Qualquer desperdício pode comprometer a viagem e fazer com que os passageiros fiquem pelo caminho.
Guimarães Rosa nos ensina que “a coisa não está nem na partida e nem na chegada, e sim na travessia”. Neste caso, cada cidadão e cada um dos vereadores destas cidades, precisam exercer, durante o percurso dos próximos quatro anos, o controle social sobre as contas públicas como a mais sagrada das obrigações impostas à sociedade. Em caso contrário, o carro poderá ficar pelo caminho, sem concluir a travessia.
O que esta realidade impõe aos novos gestores? Acácio Dantas deve entender que gastos desnecessários com festas, contratações de comissionados, excesso de diárias, estátuas ociosas, propagandas nas rádios locais e prebendas, por exemplo, devem ser evitados.
Aído Lira deve ter consciência que, na Prefeitura de Frei Martinho, não falta dinheiro para fazer investimento público na melhoria da qualidade de vida dos seus cidadãos. A folga permite maiores realizações, mas, também, impõem as mesmas restrições indicadas ao colega de Picuí. Em síntese, como já se tem ouvido falar, “o principal é o importante. O resto é secundário”. Portanto, é preciso gastar bem e de maneira útil.
Veja nas páginas 20 e 21 do relatório, a análise consolidada das receitas e o ranking dos municípios.
_______________
Sebastião Santos é pedagogo, especialista em educação de jovens e adultos, professor efetivo da educação básica na rede pública municipal de Picuí e Nova Palmeira, presidente do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais do Curimataú, do Conselho de Educação de Nova Palmeira e vereador eleito no mesmo município, integra o Coletivo Estadual de Formação da Central Única dos Trabalhadores da Paraíba (CUT-PB), é membro do Conselho do Orçamento Democrático da Paraíba na 4ª Região Geoadministrativa e no Conselho Estadual.