NA VIDA DE NOVA PALMEIRA"
“A coisa não está nem partida e nem na chegada, mas na travessia”, disse Guimarães Rosa. Esta semana os amigos de Josefa Bezerra Dantas contaram a travessia da sua vida. Na comunidade Amigos de Nova Palmeira, Tete Bezerra, Fancisnaldo Borges, Rita de Cássia Medeiros, Kiara Lígia, Iris Cavalcante, Fátima Bezerra, Dayckson Rinnelly e Elisabete Dantas destacaram as particularidades da amiga que gostava de música e acolhia a todos em sua residência.
“Muitas gerações de Nova Palmeira passaram por sua casa. Lá eu comecei a ouvir Elis Regina”, revelou o amigo e poeta, Francisnaldo Borges, hoje uma referência na Paraíba sobre a cantora gaúcha.
Francisnaldo destacou o gosto musical de Zefinha. “Tom, Vinicius, Ivan Lins. Ela curtia a boa música”, escreveu. “Fã de Roberto Carlos, era a primeira a comprar o LP do Rei”, completou. Em outro momento, o amigo escreveu: “Sei que gostava de mim”. E concluiu em tom de saudade: “O lápis sobre o livro aberto, finalizo seu registro de óbito”.
Josefa Bezerra Dantas nasceu em 1941. A servidora pública estava na base do SINPUC há mais de uma década e contribuiu não só para o desenvolvimento do município, mas também, para afirmação do sindicato como uma instância de negociação política entre os trabalhadores e as administrações locais.
“Era uma pessoa despreconceituosa, tolerante, não com malfeitos, mas no sentido de compreender, de respeitar o outro como ele é”, disse a amiga e deputada federal, Fátima Bezerra. “Uma das melhores pessoas que conheci, só falava com a gente com um sorriso no rosto”, reforçou Kiara Lígia.
Em Tiago, capítulo 4 e versículo 14, o texto bíblico afirma: “Porque, que é a vossa vida? É um vapor que aparece por um pouco, e depois se desvanece”. Já que o corpo está sujeito à fugacidade, imortalizar a presença das pessoas, através de suas histórias, torna-se uma necessidade. O que o SINPUC quer, com este breve perfil contado a partir das mensagens dos amigos, é fazer com que Zefinha continue viva, onde é possível mantê-la viva: na nossa memória.
Todo tempo é pouco pra se viver. E morrer, como disse Pedro Bial, “é um exagero”. Drummond nos ensinou que, “todo dia é menos um dia”. Portanto, precisamos viver uma vida bem vivida, dentro de uma conduta ética e fraterna. Era assim a vida de Zefinha. Hoje, relembramos a sua travessia, a sua coerência e a sua expressão humanizadora.
Leonardo Boff, em entrevista à revista Caros Amigos, falou sobre sua experiência com Darcy Ribeiro quando, 15 dias antes de morrer, o antropólogo o convidou para uma conversa. Darcy pediu para que Boff lesse o prefácio de seu último livro, Confissões, escrito quando ele já estava doente. O teólogo registrou como Darcy terminou o texto: "Pena que a vida, tão carregada de lutas e fracassos, e vitórias, e vontade de trabalhar, seja marcada por uma profunda desesperança, porque nós voltamos, através da morte, ao pó cósmico, ao esquecimento, e ficamos na memória, que é curta e só de algumas pessoas, e voltamos à diluição cósmica".
Leonardo Boff discordou da visão de Darcy Ribeiro e disse: “Acho que é uma interpretação de quem vê de fora. É como você ver a borboleta, e ver o casulo. Você pode chorar pelo casulo que foi deixado para trás e ver que ele morreu. Mas você pode olhar a borboleta e dizer: ‘Não, ele libertou a borboleta, e ela é a esperança de vida que está dentro do casulo’.
“De fato Zefinha era muito querida por todos. Com certeza irá deixar muitas saudades para os palmeirenses”, disse Elisabete Dantas, secretária de finanças do SINPUC. “Você será sempre uma referência bonita em nossas vidas”, finalizou Tete Bezerra.